Noites passadas
Minha companhia dormia ao lado da minha cama, num colchão
velho, desses que, temos em casa, guardado para as visitas inesperadas e
normalmente queridas.
Já naquela época, mesmo diante de resmungos encontrava
maneiras de ter por perto quem eu queria. Sabia que não conseguiria dormir
vendo cada movimento estático de sono durante a noite, mas ainda valia à pena.
E por acreditar valer à pena, me levantei em cima da cama, pus meus pés na
beirada, como que num trampolim, me preparei e mergulhei por inteiro naquele
corpo.
Um mergulho mortal e de cabeça.
Alaguei-me de ti.
Envolvido pela viscosidade confesso que em alguns momentos
fiquei sufocado e quase morri afogado, mas em outros ia à parte mais funda e
como se voltasse aos meus tempos intrauterinos ficava de olhos fechados
simplesmente me sentindo envolvido pelos sons e formas.
Não buscava ar. Esquecia-me que a ligação, de fato, não
existia e que, portanto não seria nutrido e se ali permanecesse morreria.
Comentários