Pesquisa como um mecanismo social

“A escola tem uma história documentada, geralmente escrita a partir do poder estatal, a qual destaca sua existência homogênea. Nesta interpretação, a escola é difusora de um sistema de valores universais ou dominantes que transmite sem modificação. [...] Coexiste, contudo, com esta história e existência documentada, outra história e existência, não documentada, através da qual a escola toma forma material, ganha vida.” (EZPELETA & ROCKWELL, p.12 a 13).

Como dito, nem tudo da existência da escola é registrado formalmente e a estas informações dispersas em memórias, fotografias e escritos que a etnografia, neste caso, em especial, a pesquisa participante se volta. O livro Pesquisa Participante se propõe a realizar construções teóricas acerca da etnografia e da pesquisa participante, trazendo contrapontos, como a afirmação de alguns que a etnografia exige certa ateoricidade – estado sem teoria.

Única edição do livro. Impresso em 1986.

Tornar a pesquisa - em ciências sociais - aplicada concretamente à realidade, assim talvez possibilitando mudanças numa sociedade mais justa através de múltiplas vozes que se reúnam em torno de um objetivo comum.

A pesquisa participante propõem-se como um método que estabelece diálogos entre as duas esferas - no meu caso, a universidade e a comunidade - bem como remove o pesquisador da suposta posição epistemologicamente descomprometida.

Achei interessante uma colocação que me leva ao projeto político pedagógico das escolas do ensino básico e o termo “plano pedagógico do curso” da minha Universidade. Segundo as autoras, “a tradição positivista, por exemplo, ensinou-nos a ver na escola, em seu interior, o pedagógico, e fora dela – nas causas, efeitos ou resultados da escolaridade – o político”.




Tendo em vista que o livro foi produzido no final da ditadura militar no Brasil, sendo, em parte, produto da vinda das autoras ao Brasil para participar de um seminário do INEP (Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais), me pergunto até que ponto essas discussões influenciaram as atuais diretrizes do MEC (Ministério da Educação).

Eu não colocaria a etnografia associada à pesquisa participante como um método necessariamente oposto à tecla do positivismo, sobre a qual um professor costumava por o dedo em quase toda a aula, mas como algo consciente dos reclames, da necessidade de diálogo para mudanças sociais e oposto às comparações do dever-ser, estando comprometido à análise das instituições sociais em si, já que é fruto da sociologia.

Já no final do livro, tratando-se das ciências sociais, o livro traz nas “notas sobre pesquisa participante e construção teórica” a fala da autoria Agnes Heller: “[...] a função ideológica das ciências sociais é a definição de conflitos”. No campo do Direito, pra mim, isso diz muito.

Por enquanto, ainda preciso de mais reflexões e por bem, em vista do pequeno número de exemplares do livro, agora tenho uma versão em .pdf com melhorias da obra. De maneira geral, eu indicaria o download do livro para quem se propõe a estudar métodos que levem à criação de conhecimentos sobre conflitos sociais e possível resolução baseada em conhecimentos científico e popular.

Quem estiver se iniciando em práticas extensionistas, como eu, precisa tentar ler Pesquisa Participante, de Justa Ezpeleta e Elsie Rockwell, umas três vezes. Evidentemente não de maneira linear, mas de início reconhecer trechos importantes, simplesmente sentir o livro, partir para uma leitura integral e por último buscar realizar anotações. Isso ajuda a fixar conceitos e perceber o que foi deixado de lado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Coesão

Zona de conflito